É festa no céu. O céu é conviver com Deus. É vê-lo face a face. Ele é amor trinitário. É relação em si e em nós: Pai, Filho e Espírito Santo. A alegria da festa, a “grande recompensa nos céus” é, portanto, estar com Ele, na visão beatífica. Homens e mulheres, redimidos por Cristo, comungam da bem-aventurança celeste. A Igreja triunfante é o ponto de chegada, a pátria celestial da convivência.
O Apocalipse expressa a felicidade dos eleitos e a exultação dos redimidos através de imagens simbólicas de uma liturgia festiva e pascal. Pelo sangue do Cordeiro imolado que é Jesus, morto e ressuscitado, a salvação é cantada em hinos de louvor a Deus Pai. Entoam o cântico novo da páscoa definitiva: aleluia!
É festa aqui. Pela Sagrada Liturgia nós membros da Igreja militante, comemoramos santos e santas, nossos irmãos, reconhecidos e anônimos, lembrados ou esquecidos, enfim, “a multidão que ninguém pode contar”, segundo o modo de narrar do mesmo Apocalipse.
A Solenidade de Todos os Santos é bastante especial. Inclui-nos a nós que militamos na fé e no amor, animados pela esperança viva de vivermos em Deus e com Deus, na comunhão que nos integra, desde agora, na vida divina, pela graça batismal. Haveremos de guardar a veste nupcial, nossa roupa de festa, a fim de participarmos do banquete do Reino definitivo.
Já estamos incluídos e não só convidados. É o que extraímos da afirmação: “grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus” (1Jo 3, 1). É o nosso “já”. Porém, existe o “ainda-não”, pois “ nem sequer se manifestou o que seremos” (v. 2). De que se trata? “Seremos semelhantes a Ele” (v. 2) a Jesus, o Filho Único do Pai e “nós o veremos tal como Ele é” (v. 2). Eis nossa esperança.
Na proposta evangélica da santidade, existe a dimensão ética ou comportamental de quem está a caminho. A propósito, a Carta Magna do Evangelho proclama felizes os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os perseguidos por causa da justiça. Bela proposta da vida nova em Cristo!
É preciso mergulhar em cada uma dessas bem-aventuranças que falam mais do “ainda-não”, porém, nos provocam desde agora. Porém, duas afirmam o nosso “já”: O reino dos céus é dos pobres em espírito ou de coração; O reino é dos perseguidos por causa da justiça (cf. Mt 5, 1-12). Ambas nos provocam muito, pois estes já vivem no clima da eternidade mesmo neste mundo transitório.
Tantos discípulos e discípulas viveram e vivem as bem-aventuranças, mergulhando no seu sentido prático e existencial, em variadas circunstâncias e oportunidades. Por tal vivência, os santos e santas não estão apenas no céu. Já habitam a terra. Surpreendem-nos com suas boas e até heroicas ações, especialmente, o cuidado nas pequenas “coisas” realizadas no empenho diário, suavizando a rotina.
Pomos em suspenso tanto pecado e tanta maldade na Solenidade dos Santos inclusive o que eles fizeram de errado ou condenável. Olhamos tão-somente a bondade, a generosidade, a entrega na doação gratuita e perseverante e seu martírio cruento ou incruento. Louvamos a Deus admirável em todos. Contemplamos neles a vitória da graça.
Diante do estímulo de todos os santos, especialmente aqueles convertidos e penitentes, tão semelhantes a nós, retomamos nosso caminho, no combate perseverante, a favor da vida, do amor, da justiça e da paz, em Cristo, com Cristo e por Cristo, na unidade do Espírito Santificador.
Em síntese, o que os santos de Deus nos dizem? O mesmo que nos diz São Paulo: “Sede meus imitadores, como eu mesmo o sou de Cristo” (1 Cor 11, 1). Logo, o que seria do mundo e da Igreja sem os imitadores? O que seria de nós se os santos e santas nunca tivessem habitado a terra e ao nosso redor? Semelhantemente, quanto bem poderemos fazer se formos simplesmente santos.