Segundo o Evangelho de Mateus, o Senhor Jesus ordenou o batismo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, acompanhado do ensinamento, em vista do discipulado ou do seguimento (Mt 28,19-20).
Conforme textos antigos, batizava-se, mergulhando o catecúmeno na água três vezes. Cada mergulho era antecedido da pergunta e consequente resposta: Crês em Deus, o Pai todo-poderoso? Creio. Crês em Jesus Cristo, o Filho de Deus…? Creio. Crês no Espírito Santo…? Creio. Observa-se a intima relação da fé na Santíssima Trindade com a celebração e a administração do batismo. Significa que somos mergulhados em Deus desde o início da nossa existência cristã.
O Catecismo da Igreja Católica recorda: “Os cristãos são batizados “em nome” do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e não “nos nomes” destes três, pois só existe um Deus, o Pai todo-poderoso, seu Filho único e o Espírito Santo: a Santíssima Trindade”. É o mistério central da fé, revelado por Jesus: “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11, 27). Quanto ao Espírito Santo, Jesus o anuncia como “outro Defensor” ou Advogado e Consolador. É Ele quem nos recorda tudo o que o Senhor ensinou. (Jo 14, 26).
Segundo Lucas, o início de nossa salvação e seu cumprimento são obras da ação trinitária. Deus, o Pai, enviou o anjo Gabriel a Maria, a cheia de graça. Anuncia-lhe o Filho do qual será Mãe: “Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo” (Lc 1, 32). Respondendo à indagação de Maria, diz-lhe: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus” (v. 35).
A doutrina sobre a triunidade divina que a Igreja estabeleceu, com o progressivo desenvolvimento de sua linguagem dogmática, fruto dos primeiros Concílios, fundamenta-se nas Escrituras e na Tradição viva. O próprio Paulo cujos textos antecedem o escrito dos Evangelhos, afirmara a ação trinitária na Igreja: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversos modos de ação, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos (1Cor 12, 4). Portanto, refere-se ao modo de agir do Espírito Santo, do Senhor Jesus, de Deus -o Pai, na comunhão recíproca. Nas introduções e saudações aprecia o modo trinitário de dizer. A mais explícita é: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!” (2Cor 13, 13).
Na espiritualidade, experiência significativa e pessoal de Deus, a Trindade é vivida no relacionamento com cada pessoa divina, especialmente através da oração e da liturgia. Deus é o Pai com o qual nos relacionamos como filhos no Filho, na fraternidade de irmãos. Expressa a dimensão da família de Deus bem ao gosto de Jesus. Jesus é o Senhor, nosso Redentor e Salvador, irmão e amigo, companheiro no itinerário da vida até a morte para a eternidade. O Espírito é nosso santificador, hóspede divino, que se une ao nosso espírito e se faz um conosco. Consola-nos e defende-nos. Recorda-nos e atualiza o ensinamento do Mestre. É também Mestre interior, penhor de nossa salvação, pois nos prepara à visão beatífica.
Na mística das Comunidades Eclesiais de Base, a Trindade é comunicação comunicante de amor socialmente partilhado. A Trindade é aberta ao social, ou seja, à criação de sociedades participativas e solidárias e livres. A fé trinitária estimula a existência social autêntica, aquela que cria instituições justas. Enfatiza a luta por políticas sociais libertadoras e igualitárias a favor dos empobrecidos. Por isso, o Domingo da Santíssima Trindade é o dia das Comunidades Eclesiais de Base, em romaria e em festa. Louvam o Deus da vida, da colheita e da partilha.