A celebração da Páscoa cristã que se estende por cinquenta dias, incluindo Pentecostes, repõe o sentido da esperança para o presente e o futuro da humanidade. A ressurreição de Jesus e a nossa foram desenvolvidas por Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios, no capítulo 15. Trata-se do mais antigo escrito sobre esta temática, elaborado na primavera do ano 56. Vamos comentá-lo.
Ao declarar a derrota da morte e do seu aguilhão, que é o pecado, dando graças a Deus pela vitória (v 56), o Apóstolo afirma a ressurreição de Jesus como primícias dos que adormeceram (v. 20). Isto quer dizer que a morte e a ressurreição são a vitória do Senhor; porém, resta ainda esperarmos a nossa. Então, abre-nos um horizonte de esperança: “O último inimigo a ser destruído será a Morte” (v. 26). Não poderia dizer o contrário, pois, mesmo após a ressurreição do Senhor os fiéis de Cristo morrem.
No entanto, a afirmação que Jesus ressuscitou vale para a possibilidade da ressurreição dos mortos. Portanto, para nossa esperança: nós também ressuscitaremos! Daí a frase afirmativa, uma das mais repetidas dentre as assertivas paulinas: “Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (v. 14).
A afirmação da vitória de Cristo vale para a certeza de nossa redenção, pois se Ele não ressuscitou ainda estamos em nossos pecados (v. 17), os que Nele adormeceram estariam perdidos (v. 18) e nós “somos os mais dignos de compaixão de todos os homens” (v. 19). Ao contrário, Jesus “foi entregue pelas nossas faltas e ressuscitou para nossa justificação” (1 Cor 4, 25). Logo, nossa esperança se fundamenta na vitória sobre a morte, que Ele aceitou.
Resta, porém, o último inimigo. Uma vez abatido corresponde à vitória sobre a nossa morte. Na conclusão, Jesus entregará ao Pai a submissão de todos os seus inimigos, com nossa participação, a colaboração da Igreja de todos os tempos. Trata-se de ato soberano de Cristo e do reinado de Deus, assim formulado: “quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas então o próprio Filho se submeterá àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos” (v. 28).
Enquanto caminhamos na esperança, a realidade é dura e cruel, pois há áreas nas quais os efeitos da vitória da vida sobre a morte ainda não se visibilizam. Continua o duelo entre a morte e a vida. Os efeitos são dolorosos. Uns retornam, outros já permaneciam: desordens financeiras e dívidas; mentira e corrupção; falta de trabalho e servidão; fome e exploração infantil; miséria e favelização; torturas e assassinatos; dependência de drogas e licenciosidade; crime organizado e terrorismo; traições e calúnias; assaltos e roubos. A lista incompleta estarrece. Entretanto, há sempre sinais de vida onde a dignidade humana é valorizada e respeitada, quando a paz é fruto do direito e da justiça.
Quanto aos cristãos, a vitória da vida ocorre na existência dos que aceitam a pessoa e mensagem de Jesus. Para os santos, Ele reina vivo e vence sobre as realidades desumanizadoras, pois eles fazem o bem sem olhar a quem. Lutam com as armas da justiça e da verdade, da bondade, da misericórdia, do perdão. Deixam-se conduzir pelos estímulos de Paulo: “Vigiai, permanecei firmes na fé, sede corajosos, sede fortes! Fazei tudo na caridade” (v. 13). Os santos podem rarear, mas Deus não deixa que desapareçam da terra.
Especialmente no tempo pascal, a Igreja afina o tom de sua voz para entoar o cântico novo do Ressuscitado: Amém! Aleluia! A liturgia solene se une ao hino do triunfo dos eleitos no céu: “A salvação pertence ao nosso Deus que está sentado no trono, e ao Cordeiro!” (Ap 7,10). Desafia e ironiza o último inimigo: “Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão?”(v. 55). Retoma o canto dos primeiros mártires a caminho de Cristo na glória.