Iniciamos o Ano Litúrgico. Com ele, preparamos a celebração do Natal, a vinda de Jesus no tempo e no hoje de nossa vida e enfatizamos a expectativa do seu retorno em glória.
Segundo Lucas, Jesus usa linguagem apocalítica para profetizar o juízo universal e anunciar sua segunda vinda enquanto Juiz. Caberá aos discípulos a interpretação dos sinais precursores (v. 25), no simbolismo do abalo cósmico (Lc 21, 25-26). O tipo de linguagem visa a expressar a manifestação divina, inesperada como armadilha (v. 35), e definitiva. O ensinamento é sobre a vigilância a ser cultivada.
Ele identifica-se com a misteriosa figura do Filho do Homem, vindo sobre as nuvens, com grande poder e glória (Lc 21, 27; cf. Dn 7, 13-14). Ao seu advento, os homens desmaiam de medo (v. 26) e se curvam. Contudo, os fiéis de Cristo se levantam e erguem a cabeça, pois a libertação se aproxima (v. 28). Permanecem em pé (v. 36) diante do Filho do Homem. Tal atitude enfatiza o privilégio que a fé lhes concede de reconhecer o Redentor.
Alimentar o desejo do retorno de Cristo é vivenciar, intensamente, o tempo da Igreja na esperança da libertação ou redenção de todos. Prolongamos o tempo do fim enquanto desejamos permanentemente o advento. Mantemos a chama viva da fé, aguardando e preparando a conclusão da história. Retomamos o desejo dos primeiros: Vem, Senhor Jesus! (Ap 22, 20).
O Eterno tarda. Não segue a nossa pressa, própria do tempo. Assim, educa-nos à paciência construtiva e dinamizada pela esperança. A vigilância e a oração fortalecem a espera (v. 36) para que não haja desânimo, descrédito, ceticismo, enfim, ociosidade. A propósito, recordemos a indagação do Mestre: “Mas, quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra? ” (Lc 18,8). Presume-se que sim. À semelhança da pobre viúva da parábola que suplicava justiça ao juiz injusto, a Igreja permanecerá vigilante, clamando pelo juízo de seu Senhor.
A indiferença, a perseguição e o ateísmo pós-cristão do momento, por um lado, e, por outro, o empenho dos discípulos pela nova evangelização, o renovado testemunho do amor sócio e caritativo, a celebração litúrgica festiva, sinalizam as oposições, contradições, perdas e muitas conquistas.
No modo de Jesus dizer, haverá perda de sentido se a existência for reduzida à simples satisfação dos prazeres primários cujo excesso é representado pela gula e a embriaguez, ou quando o empenho de si é canalizado exclusivamente às preocupações da vida, sem nenhuma abertura à Providência Divina (v. 34). “Não vos preocupeis com a vida” (Lc 12, 22), dissera.
No centro do advento está quem vem e virá. “Eles verão o Filho do Homem, vindo…” (v. 27). Por isso, o discípulo de Jesus é portador do futuro no presente. Empenha-se em construir a história humana, em cada tempo, com suas próprias exigências e criatividade. Porém, em Cristo.
A fé e a esperança no retorno do Senhor reforçam nossa confiança na graça que age no mundo dos homens e mulheres para que descubram o Redentor. Expressam o sentido cristão da história no anúncio, no serviço, no testemunho e na celebração eucarística: “até que Ele venha” (1 Cor 11, 26). O objetivo é o plano redentor do Pai, em Cristo, no Espírito.
Aproveitemos da riqueza deste tempo inaugural, tempo litúrgico da graça da chegada. Ele sinaliza também para a vinda do Senhor no presente de nossas vidas e situações, e, nosso encontro solidário com os pobres para os quais veio em primeiro lugar, com os doentes, prisioneiros, rejeitados. Não serão eles, em certo sentido, nossos juízes?!
Enfim, este tempo é apelo e interpelação à nossa liberdade de agir no amor e no bem.